Os Imigrantes e o Inglês Americano: os Alemães, os Italianos, os Judeus e Outros
De todos os grupos de imigrantes europeus, o mais influente, e o maior, foi o alemão, que trouxe para o inglês americano um sem-número de palavras, como: delicatessen (delícias), ecology (ecologia), hoodlum (cafajeste, marginal), kindergarten (jardim de infância), nix (nada), phooey (interjeição equivalente a “bobagem!”), scram (sair rapidamente, dar o fora), e muitas outras. Os imigrantes alemães eram, em geral, pessoas de bom nível cultural e econômico, o que lhes permitia se estabelecerem com relativa facilidade. E, assim, eles se espalharam pelo país, especialmente na Pensilvânia, nas Carolinas, e em Maryland, Virginia e Nova Iorque.
Já os italianos, que vieram logo após os alemães, tinham origens mais humildes – eram geralmente pobres e analfabetos, provenientes de regiões menos privilegiadas do sul da Itália. Entre 1865 e 1920, mais de cinco milhões de italianos partiram para os Estados Unidos, principalmente para as grandes cidades do nordeste, e logo surgiram Little Italies (Pequenas Itálias) em vários lugares. A influência italiana no inglês americano foi mais limitada do que a alemã por um motivo simples: os italianos, sendo econômica e socialmente mais dependentes do que os alemães, trataram de se adaptar ao novo ambiente e aprender o inglês americano o mais rápido possível. Mas pela sua exuberância e gosto de viver, o italiano enriqueceu o inglês com as palavras e os sabores da sua comida, bebida e alegria. Pizza, spaghetti, lasagne, espresso, broccoli, chianti, tarantella, e muitos outros termos, fazem parte da língua e da cultura americanas.
Há uma faceta da experiência italiana que foi deturpada pela mídia, especialmente por Hollywood, e que teve uma forte influência no inglês – a linguagem ligada à Máfia. Algumas expressões, de fato, têm ligação com a língua italiana, como capo (cabeça ou chefe) e famiglia (com o significado de família mafiosa). Por extensão, Hollywood e seus filmes de gangsteres erradamente retrataram todo um clima de marginalidade através de uma linguagem que ficou ligada à Máfia, mas que não tem nada a ver com a língua italiana e nem sequer é exclusiva da Máfia: racketeer (escroque), hood (derivado de hoodlum), hatchet man (capanga), doing the dirty work (praticar atos ilícitos), protection racket (indústria de proteção) e loan shark (agiota), entre outros termos.
O poder da mídia sobre o inglês pode ser constatado quando estudamos a imigração do terceiro maior grupo proveniente do continente europeu – os judeus. Geralmente de bom nível cultural e social, os judeus tinham dificuldade em entrar nos meios já estabelecidos, o que lhes deixava poucas saídas. Muitos deles optaram pelos meios do show business, jornais, revistas e, mais tarde, do rádio, filmes e televisão. E assim foi que, através de inúmeros atores, cantores, comediantes, diretores, compositores e outros profissionais de entretenimento, o inglês americano misturado com iídiche (o tipo de alemão falado por grande parte dos imigrantes judeus) deu origem ao yinglish (Yiddish + English). Dali surgiram inúmeras expressões, como chutzpah (atrevimento, petulância), kibitzer (um intrometido), gonef (trapaceiro, 171), shtik (linguagem teatral, papel pequeno; cacoete), kosher (adequado, legítimo), nebbish (pessoa sem graça), shlemiel (pessoa boba, ingênua), shmuck (pessoa detestável), meshugana (maluco), shmaltz (piegas, cafona), yenta (casamenteira, fofoqueira) e mazel tov (boa sorte, parabéns). Aliás, um bom número das palavras em inglês americano começando com sh ou sch vêm do iídiche e em grandes centros urbanos, como Nova Iorque, fazem parte do dia-a-dia.
Os imigrantes do continente europeu formavam apenas uma das várias forças que influenciaram o inglês americano. Era, digamos, uma influência vinda de fora que acabou se impondo e hoje faz parte do inglês comum. Houve outra que foi, a bem dizer, uma influência vinda de dentro. Foi o caso dos irlandeses e dos Scots-Irish, que, embora também imigrantes, já falavam inglês ao ingressar na sociedade americana. Mas era um inglês com características tão fortes que deixou as suas marcas, como já vimos em artigos anteriores. Quanto à influência do idioma espanhol, há muito que ela se fazia sentir através dos contatos dos colonos e pioneiros com os territórios pertencentes à Espanha, mas foi intensificada com a chegada de imigrantes em tempos mais recentes. Hoje, tacos, tortillas e burritos são palavras usadas pelos americanos como se fizessem parte do vocabulário inglês desde sempre.
Pode parecer irônico, mas um bom número de termos trazidos pelos imigrantes só ganharam o mundo através do inglês americano.
Nos próximos artigos, veremos as experiências de um tipo de imigrante bastante diferente e sua influência sobre o idioma inglês americano. Entre em contato com o autor: John D. Godinho, [email protected].
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Inglês na América: chegada do idioma ao Novo Mundo
Imigrantes e Inglês Americano: Ethnic Slurs e Estátua da Liberdade
Imigrantes e Inglês Americano: Ellis Island e Comunidades de Imigrantes
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