Os Imigrantes e o Inglês Americano: Ellis Island e as Comunidades de Imigrantes
Na teoria, os imigrantes atraídos pelas promessas da América seriam submetidos a um processo de nivelamento linguístico e cultural que veio a ser chamado the melting pot, isto é, as diferenças entre nativos e recém-chegados seriam derretidas num tremendo caldeirão para dar origem a uma nova cultura. Mas a quantidade de ingredientes nessa sopa estava crescendo desmesuradamente. O número atingiu mais de mil imigrantes por dia que desembarcavam em Nova Iorque e as autoridades viram-se obrigadas a montar uma estação central para receber e registrá-los. Em maio de 1855, foi inaugurado um centro de processamento em Castle Garden, na realidade a adaptação de um forte com o nome de Castle Clinton.
A partir de 1890, e até 1954, esse trabalho foi feito numa pequena ilha chamada Ellis Island, onde os recém-chegados ficavam de quarentena, eram examinados e seguiam os trâmites legais antes de serem liberados. (Eu sei dessas coisas porque a minha família passou por lá). Da janela de seus dormitórios, os candidatos a “americanos” podiam ver a Estátua da Liberdade e sua tocha. A distância é pequena – apenas 800 metros – e a proximidade do símbolo e do mito era um forte incentivo para começar a construir o futuro. Naquele momento, os sonhos eram muito mais fortes do que os medos, como comprova o acervo do impressionante Museu do Imigrante, em Ellis Island. Ali, podemos ver pedaços da saga de milhões de sonhadores.
Uma vez liberados, os imigrantes naturalmente agrupavam-se em comunidades étnicas onde as coisas lhes eram mais familiares e havia uma sensação de segurança, de pertencer a algo, de ainda ter raízes – enfim, a sensação de poder sobreviver. E, assim, foram surgindo clubes, lojas, jornais e até, como hoje, programas de rádio e televisão. Nesses resquícios de pátrias passadas ainda se ouve a língua original e se encontra a comida, a música, e outras manifestações culturais do old country (o país de origem, a terrinha). Só para citar um exemplo, na virada do século XX, a cidade de Nova Iorque tinha mais falantes de alemão do que qualquer lugar exceto Viena e Berlin; tinha mais irlandeses do que Dublin, mais russos do que Kiev e mais italianos do que Milão e Nápoles.
Ainda hoje existem muitas regiões onde as caraterísticas étnicas são marcantes. Há as Oktoberfests alemãs, em muitas localidades da América; o dia de S. Patrício (St. Patrick´s Day) irlandês é celebrado em praticamente todos os estados; há uma Chinatown em San Francisco, outra em New York; muitos italianos em New York ainda moram em Little Italy, onde as tradicionais festas de San Genaro são celebradas até por não italianos; em Gloucester, Massachusetts, e em numerosas comunidades portuguesas da Nova Inglaterra e Califórnia, você pode participar das homenagens a N.S. da Boa Viagem ou N. S. de Fátima; em Newark, no estado de New Jersey, a comunidade luso-brasileira da Ironbound Section mantém as tradições dos dois países; em Nova Iorque, existe o Little Brazil, a comunidade brasileira em torno da Rua 46 e a festa chamada Brazilian Day transforma a 6ª Avenida em um rio verde e amarelo. Los Angeles é um mar de comunidades minoritárias. Os exemplos não têm fim.
Todas essas atividades deixaram marcas na cultura e inglês americanos, como veremos nos próximos artigos. (Entre em contato com o autor: John D. Godinho, [email protected])
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
Inglês na América: chegada do idioma ao Novo Mundo
Inglês Americanizado: Cowboys, Ferrovias e a Língua Inglesa
Imigrantes e Inglês Americano: Ethnic Slurs e Estátua da Liberdade
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