O Inglês na América: como a língua inglesa vingou nos Estados Unidos
Embora todos reconhecessem que a sociedade americana era poliglota, ninguém questionava o fato de que o inglês era, de longe, o mais importante de todos os idiomas falados no país. Isso foi deixado bem claro no primeiro censo, feito em 1790. De um total de 4 milhões de americanos recenseados, 90% eram descendentes de colonos ingleses. Portanto, não se tratava de adotar ou não o inglês; a questão era outra: que tipo de inglês serviria melhor o novo país… “o idioma rançoso do ex-opressor…”, como diziam alguns, ou um inglês mais condizente com o espírito de liberdade e esperança que todos sentiam no ar? Nas palavras de John Adams, o inglês americano seria um inglês melhorado e aperfeiçoado e serviria para que a nova república pudesse espalhar os seus ideais mudo afora. “Chegará o dia em que a maior honra para os ingleses será a de imitar os americanos,” dizia Adams com o maior orgulho.
Na realidade, o inglês como “língua mãe” já era um fato tido como consumado, tanto assim que a ideia de uma língua oficial não estava entre as preocupações dos fundadores do país, os chamados Founding Fathers – o assunto nem sequer é mencionado na Constituição. A única dúvida referia-se às mutações que o idioma poderia vir a sofrer no futuro. Na opinião de Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, o inglês americano provavelmente se tornaria um idioma bem diferente do inglês europeu, a ponto de ser considerado como uma língua diferente. Franklin ia mais longe e alertava para o perigo de o país se fragmentar em várias comunidades, cada uma com o seu idioma.
Por um breve momento, os números pareciam confirmar a profecia de Benjamin Franklin, mas o dinamismo e a diversidade da sociedade americana não o permitiram. Até 1840, a América do Norte havia recebido uma média de 20 mil imigrantes por ano, a maior parte vindos de dois lugares – da África vieram os escravos; da Europa vieram, na maioria, ingleses, escoceses e irlandeses. O total de imigrantes entre 1607 e 1840 é calculado em cerca de 1 milhão. Desde aquela época até o final do século XIX, entraram no país mais de 30 milhões de imigrantes e o ritmo ficou mais acelerado ainda no início do século XX.
Em várias localidades da América era comum encontrar-se comunidades com idioma próprio. Havia os alemães em Wisconsin e Indiana, os noruegueses em Minnesota e nas Dakotas, os suecos em Nebraska e muitos outros. Com todos esses bolsões étnicos, não seria natural que o país se desintegrasse numa variedade de línguas regionais como na Europa? Ou, pelo menos, que o inglês se dividisse em vários dialetos, cada um refletindo a cultura do grupo de imigrantes? Nada disso aconteceu – muito pelo contrário, o povo americano fala um inglês bastante uniforme levando-se em consideração a extensão do país.
Há várias explicações para essa uniformidade. A primeira, e mais óbvia, é a constante movimentação da população, uma inquietação típica do americano, para baixo e para cima no continente ou atravessando o país de oceano a oceano (from coast to coast como se costuma dizer). Esse desassossego levava a um convívio constante entre tantas nacionalidades que o efeito positivo foi de uni-las em vez de separá-las. Isso evitou a formação de dialetos. Existem regionalismos, é claro, mas nada muito profundo. E, finalmente, as pressões sociais e econômicas e o desejo de participar de uma identidade nacional, faziam com que as pessoas naturalmente adotassem uma forma padrão de língua. Os recém-chegados sentiam, e ainda sentem, a necessidade de fazer parte do fluxo central da vida americana, o mainstream, reconhecendo que um fator sempre aparece em primeiríssimo plano: o domínio do idioma inglês. Caso contrário, corriam o risco de serem tidos como alienados o que, em muitos casos, era, e ainda é, sinônimo de discriminação.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
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Inglês na América: formação e descolonização do inglês americano
Inglês na América: contribuição vocabular de antigas potências europeias
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