O Inglês na América: a influência dos “Scots-Irish” (ou “Scotch-Irish”)
Nos Estados Unidos, o processo de conquista e ocupação de territórios durante o século XIX assumiu uma velocidade espantosa. O desenvolvimento econômico e as possibilidades de uma vida melhor no novo continente, atraíram um número cada vez maior de imigrantes. Havia uma energia no ar que se refletia no idioma, um caldo linguístico cada vez mais rico e bem diferente do inglês dos primeiros colonos. Os mais aventureiros abriam caminho para o oeste, numa procura incessante para melhorar de vida; à medida que as fronteiras se expandiam o inglês mudava, adaptando-se às novas paisagens, encarando e atendendo a novas necessidades.
A língua inglesa que colonizou a América não era apenas a britânica. Entre os muitos desbravadores do novo continente, encontravam-se os escoceses do norte da Irlanda, para quem a conquista de territórios inóspitos não era nenhuma novidade. A sua experiência vinha de longe, desde a época em que o Rei James I, da Inglaterra, havia confiscado os territórios dos chefes celtas ao norte da ilha, na província de Ulster. Em 1608, aquelas terras foram ocupadas por ingleses e escoceses incentivados pelo rei para quebrar o poder dos celtas irlandeses na região. A maior parte desses ocupantes era de escoceses e por isso eles ficaram conhecidos como os Scots-Irish.
Historicamente, os Scots-Irish sempre se sentiram imprensados: de um lado, tinham os irlandeses católicos a quem detestavam, e do outro, os senhores ingleses, por quem eram detestados. Desde então os conflitos entre os Scots-Irish e ingleses, de um lado, e os irlandeses católicos, do outro, têm sido mais ou menos constantes com pequenos períodos de trégua. Um século depois de sua chegada a Ulster, muitos dos Scots-Irish tiveram que se deslocar novamente, obrigados pelas péssimas condições econômicas da região, pela fome e pela perseguição religiosa.
A solução encontrava-se nos portos de Belfast, Londonderry, Newry, Larne, e Portrush, na Irlanda do Norte. Esses locais fervilhavam com as idas e vindas e preparos para a longa viagem, todos sonhando com a “Terra Prometida” do outro lado do Atlântico. Só na década de 1720, mais de 50 mil atravessaram o oceano em busca de fortuna no Novo Mundo, mais tarde seguidos por outros tantos milhares. Até o final do século quase metade da população de Ulster havia feito a travessia. As estimativas indicam que no ano da independência americana, 1776, um em cada sete colonos era Scots-Irish ou seu descendente.
Marco do Assentamento Scots-Irish na América do Norte
No princípio, estes novos colonos tentaram se fixar na Nova Inglaterra, mas não foram muito bem recebidos. Os nativos achavam os Scots-Irish violentos, arrogantes e arruaceiros demais e os “incentivaram” a seguir para Pensilvânia, onde encontrariam melhores oportunidades de trabalho e fortuna. Foi assim que Filadélfia se tornou o principal ponto de entrada para a maioria dos novos imigrantes. As autoridades locais achavam que os Scots-Irish, com sua disposição de luta e capacidade de desbravar fronteiras, seriam ideais para manter afastados os franceses e os índios que volta e meia insistiam em perturbar a paz local. O arrependimento não tardou. Os Scots-Irish novamente demonstraram sua bravura, mas não o suficiente para compensar a má-vizinhança causada por sua truculência. Após um tempo, já não eram mais bem vistos e, aos poucos, foram se deslocando para o interior, alguns se fixando em terras ao longo do caminho, pelos territórios dos atuais estados de Ohio, Kentucky, Tennessee, Georgia, Alabama e outros estados do sul. Seus descendentes ainda hoje vivem nos montes Apalaches, berço da música blue-grass e dos hillbillies, cuja fala tradicional já foi apontada como um resquício do inglês elisabetano ou shakespeariano.
Elvis Presley, John Wayne, John McCain
Com seus rifles de cano longo e seus chapéus de peles, os Scots-Irish viraram figuras de folclore e símbolos do desbravador de fronteiras. O melhor exemplo foi o legendário Davy Crockett com a sua reputação de grande lutador contra os índios. O resto é história muitas vezes contada, nem sempre muito bem, pelos estúdios de Hollywood. De qualquer forma, os Scots-Irish trouxeram consigo uma cultura oral riquíssima, cheia de provérbios, aforismos, superstições – e uma habilidade natural para inventar novas expressões. Suas rimas e canções mantêm as tradições da Escócia e da Irlanda e muitas delas tiveram uma influência marcante na formação da country music americana.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
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