O Inglês Americanizado: resposta dos americanos às criticas dos ingleses
Às vezes, a reação dos britânicos contra o inglês americano beira a histeria. Bill Bryson em The Mother Tongue, New York, William Morrow, 1990, p.174, cita um parlamentar conservador propondo um limite no número de filmes americanos permitido na Inglaterra. Dizia o representante do povo: “As palavras e o sotaque são totalmente revoltantes e não pode haver qualquer dúvida sobre a sua influência maligna no nosso idioma.” Bryson cita também um membro da Câmara dos Lordes durante um debate: “Se existe um idioma na face da terra mais horrendo do que o inglês americano, gostaria que alguém me dissesse.” Muitos anos antes, o escritor Oscar Wilde já havia comentado que “…os ingleses na realidade têm tudo em comum com os americanos com exceção, claro, do idioma.” E num comentário mais divertido mas não menos mordaz, Morton Cooper, em 1974, observou que “…dar a língua inglesa aos americanos é como dar sexo às crianças; elas sabem que é importante mais não sabem o que fazer com ele.”
Mas os americanos deram o troco. E o fizeram com a vantagem de poder demonstrar o grau de influência internacional do seu idioma. Mark Twain foi direto: “O idioma inglês é o patrimônio de uma companhia de capital aberto e nós, americanos, somos donos da maior parte das ações.” Já H. L. Mencken, em The American Language, declara: Quando dois terços das pessoas que usam o mesmo idioma resolvem usar o termo ‘trem de carga’ em vez de ‘trem de mercadorias,’ o primeiro nome está correto e o segundo faz parte de um dialeto.” (Ambos citados por Richard Lederer em The Adventures of a Verbivore, Nova Iorque, Simon & Schuster, 1994, p. 100).
Muitas vezes as críticas são infundadas. Até há bem pouco tempo, havia gente criticando as palavras maximize, minimize e input, todas supostamente americanismos do pior calibre. Esses críticos obviamente desconheciam a origem dessas palavras: maximize e minimize foram cunhadas por Jeremy Bentham, filósofo, economista e jurista inglês, há mais de um século e a palavra input, hoje tão usada em informática, já aparecia nos escritos teológicos de John Wycliffe, também inglês, em 1382.
De qualquer forma, e a despeito das críticas, os ingleses adotam termos e palavras vindas do Novo Mundo, a ponto de usar expressões que, se analisadas literalmente, não têm o menor significado na Inglaterra. Por exemplo, quando um inglês diz step on the gas (pisar no acelerador) ele está cometendo um erro técnico, visto que na sua terra o combustível de carro é petrol e não gas (abreviação de gasoline). O mesmo acontece com a expressão I’ll take a rain check, ligada ao jogo de beisebol, que não é jogado na Grã-Bretanha; é provável que a maior parte dos britânicos nem sequer saibam o que é um rain check (um vale dado aos espectadores de beisebol quando o jogo é adiado por motivos de mau tempo). Hoje a expressão também quer dizer o adiamento de um evento, seja jogo, jantar, reunião, etc., com a promessa de que o convite será renovado no futuro próximo.
O inglês americano é hoje um fato consumado. O processo de adaptação ao que seria o futuro começou a bordo do Mayflower em 1620, foi se firmando nas 13 colônias e continuou durante a expansão até o Mississipi. À beira do grande rio, o inglês fez uma parada estratégica, mas no início do século XIX tomou novo fôlego e se jogou de cabeça em direção ao Oceano Pacífico. Nos próximos artigos, vamos acompanhar suas aventuras e ver como ele conseguiu chegar lá.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
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