O Inglês Americanizado: Mark Twain e a Língua Inglesa
Foi na região do Mississipi que o inglês americano encontrou o seu primeiro grande intérprete no gênio do escritor e humorista Mark Twain (cujo nome verdadeiro era Samuel Clemens). Nascido e criado em Missouri, Twain conheceu em primeira mão toda a experiência do desenvolvimento do oeste americano. Ele foi empregado numa gráfica, piloto de um steamboat no Mississipi, soldado no exército sulista na guerra entre os estados, trabalhador nas minas de prata em Nevada, e, finalmente, repórter e escritor. Suas andanças o levaram de Missouri à Califórnia, de Nova Iorque à Terra Santa, mas seu trabalho atingia o auge quando se debruçava sobre a vida no oeste, utilizando de forma admirável os ritmos e vocabulário daquela região. E assim nascia uma literatura verdadeiramente americana sobre temas americanos em que se destacavam a linguagem simples, o humor, a expressão ao mesmo tempo coloquial e poética. A sua obra e estilo marcam o princípio do fim da reverência que os americanos tinham pela cultura inglesa e europeia e pela linguagem mais formal associada com essas culturas.
Entre os mais famosos livros de Mark Twain encontram-se The Prince and the Pauper (O Príncipe e o Mendigo) (1882), um livro infantil, Life on the Mississippi (Vida no Mississipi) (1883), descrevendo a vida ao longo do rio, e A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court (1889) (Um Ianque de Connecticut na Corte do rei Artur), uma sátira sobre a opressão feudal na Inglaterra. Mas as suas obras-primas são The Adventures of Tom Sawyer (As Aventuras de Tom Sawyer) e sua continuação The Adventures of Huckleberry Finn (1884) (As Aventuras de Huckleberry Finn). Nesta última, ele conta a história de um rapaz que foge do pai e viaja numa pequena jangada rio abaixo na companhia de Jim, um escravo fugitivo. No prefácio, Mark Twain explica que a história será contada usando o dialeto negro de Missouri, o dialeto interiorano do sudoeste e mais cinco variedades de dialetos da região do Mississipi. E assim podemos ouvir em Huckleberry Finn a voz do inglês americano popular desde a primeira à última página em que todas as convenções do inglês padrão são jogadas aos quatro ventos. Veja logo na primeira página o tipo de inglês que levava os puristas ao desespero (inglês padrão em parênteses):
“You don’t know about me, without (unless) you have read a book by the name of The Adventures of Tom Sawyer, but that ain’t no (doesn’t) matter. That book was made (written) by Mr. Mark Twain and he told the truth, mainly. There was things which he stretched (were things which he exaggerated), but mainly he told the truth. That is nothing. I never seen (I have never seen) anybody but lied (who didn’t lie at) one time or another, without it was (except for) Aunt Polly, or the Widow, or maybe Mary.”
(TRADUÇÃO: Você não me conhece, a não ser que tenha lido um livro chamado As Aventuras de Tom Sawyer, mas isso não importa. Aquele livro foi escrito pelo Sr. Mark Twain e, em geral, ele contava a verdade. Exagerava algumas coisas, mas, no todo, ele contava a verdade. Isso não quer dizer nada. Eu nunca vi ninguém que não mentisse vez por outra, a não ser a Tia Polly, ou a Viúva, ou talvez Mary.)
Nas suas andanças, Mark Twain conheceu gente de todas as fronteiras do oeste e é por isso que muitas gírias hoje corriqueiras aparecem pela primeira vez nos seus escritos. Ele tanto usava a linguagem do garimpeiro na Califórnia como a do mineiro de Nevada, como a do jogador de cartas num steamboat do Mississipi. Hoje é comum ouvir-se dead broke (sem dinheiro nenhum; durinho, durinho), take it easy (fique calmo; não se afobe), to get even (desforrar-se), e a close call (escapar por um triz), todas descritas por Twain pela primeira vez.
Uma das muitas expressões usadas por Mark Twain era You bet! que vinha a ser uma das mais comuns entre os jogadores de cartas. Naquela época, o jogo favorito era o poker, não só na região do Mississipi mas em toda a fronteira. A mania de jogar e apostar trouxe para o inglês uma série de palavras e expressões que ainda hoje são usadas. You bet (literalmente, você aposta), por exemplo, virou uma forma de expressar uma afirmativa como pode apostar, é isso aí, está certo, podes crer, e muitas outras. Agora veja como toda essa atividade influenciou o português. Hoje, temos pôquer (de poker), blefe (de bluff), blefar (do verbo to bluff), e outros termos como royal straight flush, straight flush, flush, e full hand.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
O Inglês Americanizado: a expansão do inglês
O Inglês Americanizado: novos cenários para o inglês
O Inglês Americanizado: efeito dos ciclos de colonização sobre o idioma
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