O Inglês Americanizado: deixando o inglês britânico para trás
À medida que os americanos avançavam na ocupação de terras além do Mississippi, as inovações na língua inglesa tornavam-se cada vez mais marcantes. A flexibilidade do idioma, sem as amarras da sociedade britânica, corria solta nos novos territórios, permitindo malabarismos que deixavam os ingleses mais do que perplexos. As ferramentas estavam à mão e os americanos não hesitavam em usá-las — deleitavam-se, acrescentando preposições a verbos comuns dando-lhes novos significados ou maior ênfase: to get away with (fazer algo errado sem sofrer as consequências), to brush off (não levar algo a sério), to hold out (resistir; oferecer), to fork over (pagar em dinheiro), to cave in (enfraquecer e desistir), to flare up (explodir de raiva), to beat up (surrar), to show off (querer aparecer; ostentar), to pass out (desmaiar). Ou então criavam vocábulos às centenas e davam novos significados a palavras antigas, ou abreviavam as palavras mais longas: penitentiary virava pen, fanatic encolhia e ficava fan, reformation tornava-se reform. O idioma também lhes permitia criar substantivos a partir de verbos, o que eles faziam com o maior abandono: dump (descarregar material a esmo) virou também “depósito de lixo”; o verbo to beat (bater) ganhou os significados adicionais de “ritmo musical” e de “ronda de guarda policial.”
Mas acima de tudo, os americanos demonstravam paixão por verbos formados a partir de substantivos. to scalp (escalpelar, arrancar o couro cabeludo), derivativo de scalp (couro cabeludo) foi um dos primeiros e já era usado em 1693. (Os índios eram craques neste tipo de coisa.) A lista é enorme mas aqui vão alguns exemplos, uns óbvios e outros nem tanto: do substantivo bank (banco) surgiu o verbo to bank (lidar com banco), service (serviço) deu origem a to service (dar assistência técnica; consertar), notice (aviso) tornou-se to notice (notar, perceber), advocate (advogado) originou to advocate (advogar), engineer (engenheiro) é a base de to engineer (planejar; executar; dar um jeito), panic (pânico) também virou o verbo to panic (apavorar; entrar em pânico) e package (pacote) se expandiu para virar o verbo to package (empacotar).
E o que dizer da enxurrada de expressões idiomáticas que vinham do interior? As fronteiras eram verdadeiras fábricas de metáforas e expressões que ainda hoje deixam os estudantes do idioma na maior insegurança. Uma pequena amostra já dá uma ideia do problema: to make the fur fly (fazer escândalo; brigar); quick on the trigger (ter resposta pronta; ser rápido); to whitewash (explicação inócua para desculpar atos faltosos; terminar em pizza); to have an ax to grind (agir por egoismo, ressentimento); no two ways about it (sem alternativa); to fly off the handle (perder as estribeiras); conniption fit (acesso de raiva); to bark up the wrong tree (bater à porta errada; perder tempo e esforço); to keep one’s eyes peeled (ficar de olho aberto; prestar atenção); close shave (escapar por um triz); stool pigeon (criminoso que entrega comparsas; alcaguete); to have a chip on one’s shoulder (ser facilmente provocado); to pull the wool over one’s eyes (enganar); to hold your horses (ter paciência); to face the music (aguentar as consequências); to keep one’s shirt on (ter calma); to go haywire (enlouquecer); to eat crow (admitir um erro); to be out on a limb (estar numa posição arriscada).
Muitas vezes o significado das expressões é mais ou menos óbvio como por exemplo a one-horse town (literalmente, cidade de um cavalo só) que logo dá a entender que se trata de uma comunidade provinciana, sem grande movimento econômico ou cultural, portanto, insignificante. Mas o termo pode ser usado com o mesmo significado, porém não tão óbvio, como em a one-horse business, mesmo quando esse business é em pleno Times Square de Nova Iorque. Outras vezes ocorrem palavras e frases que parecem ter surgido do nada e que, ao pé da letra, mais parecem ser fruto de um desarranjo mental: to paint the town red (pintar a cidade de vermelho, ou seja, fazer uma tremenda farra, pintar o sete); to talk through one’s hat (falar pelo chapéu/mentir e exagerar); to take a powder (tomar um pó/escafeder-se, safar-se); fit as a fiddle (bom que nem um violino/ bem disposto, em boa forma); even steven (estar quites).
E assim, o inglês americano foi deixando o inglês britânico para trás, porém, sem alterar a estrutura básica do idioma.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
O Inglês Americanizado: conflitos com o inglês britânico
Semelhanças e diferenças entre inglês britânico e inglês americano
Inglês na América: formação e descolonização do inglês americano
Como agradecer ao Inglês no Supermercado porque ele existe? Adicione o blog ao iGoogle. Adicione um link para esta página. Clique nos ícones abaixo e divulgue o blog e tudo que você sabe a respeito das palavras e expressões criadas pelos norte-americanos enquanto expandiam as fronteiras do país no Orkut, Twitter, Facebook, emails etc.