As Faces do Inglês: as Expressões Idiomáticas
O comportamento do inglês é tão imprevisível que pode levar qualquer um a se desprender da realidade. Há quem jure que o inglês é como um camaleão com o DNA vencido: ainda pode mudar de cor, só que o faz sem a menor coerência, controle ou consideração. Quando deveria estar azul, fica vermelho ou amarelo ou, pior, alterna cores com o espalhafato de um luminoso de Las Vegas. Meio-debochado, o inglês filosofa: “O camaleão tem razões que a própria razão desconhece”. Suas vítimas não acham a menor graça.
Entende-se a reação. Isto já aconteceu com você? Vamos supor que você está tranquilamente lendo um livro ou uma revista, em inglês, sem a menor dificuldade. De repente você se pega lendo e relendo a mesma frase ou parágrafo e uma sensação de desconforto ou angústia começa a se apoderar de você. Você lê o trecho novamente, com o maior cuidado, palavra por palavra, conferindo o significado de cada uma no dicionário. Nada; você não entende nada. Em desespero, você resmunga baixinho: “Isto não é inglês — ou é uma brincadeira ou um erro de impressão”. Na verdade, você está sentindo todos os sintomas de uma das armadilhas do idioma, a expressão idiomática.
Esse tipo de expressão existe em todos os idiomas. Certamente, em português também temos vários tipos de “esquisitices” ao nosso dispor. O que distingue o inglês de outros idiomas é o fato de ter um número infinitamente maior desse tipo de expressões. Isso se deve a uma série de fatores: à grande flexibilidade do idioma, com seu jeito de fazer substantivos virar adjetivos e verbos ou vice-versa, sem a menor cerimônia; à mania de acrescentar partículas (preposições ou advérbios) aos verbos, muitas vezes mudando radicalmente o seu significado (phrasal verbs); e, acima de tudo, ao hábito milenar de fazer jogos de palavras.
Pelo que se sabe, os anglo-saxões eram bastante sofisticados na arte de conversar e gostavam de expressar suas ideias de forma original e sutil. Em geral, eram analfabetos, fato que era, ao mesmo tempo, causa e resultado de uma cultura essencialmente oral, onde tudo dependia da palavra falada e da memória. Por isso você procura entender as palavras numa expressão idiomática, uma por uma, só para chegar à conclusão de que, todas juntas, não fazem o menor sentido e que o verdadeiro significado deve estar escondido em qualquer outro lugar.
Preste atenção e você verá que o sentido literal da expressão que o está incomodando nada tem a ver com o contexto; é um sentido aparentemente inútil. No entanto, com um pouquinho de boa vontade, você vai perceber que a expressão é provavelmente uma metáfora e que muitas vezes o significado está na imagem criada pelas palavras e não nas palavras em si. Por exemplo, John was born with a silver spoon in his mouth (John nasceu com uma colher de prata na boca) significa o quê? Se verificarmos a origem da expressão, torna-se bem mais simples entendermos este jogo de esconde-esconde. Em tempos antigos, era o costume os padrinhos darem ao afilhado uma pequena colher como voto de que nada lhe faltaria, especialmente comida. É óbvio que nas famílias mais abastadas a colher seria, no mínimo, de prata. Daí o significado de que John nasceu numa família endinheirada (em português, diríamos em berço de ouro, também uma metáfora).
Ela nasceu em berço de ouro.
O mesmo processo pode ser usado com He has bats in his belfry que, ao pé da letra, quer dizer ele tem morcegos no campanário, a torre dos sinos. A torre é a parte mais alta de uma igreja, assim como a cabeça é a parte mais alta do corpo humano. Se você imaginar uma torre, à noite, cheia de morcegos voando para lá e para cá, fazendo piruetas aéreas e estranhos ruídos, pode imaginar a confusão e desordem reinantes no recinto. Assim, esse caos na cabeça de uma pessoa seria indicativo de que ela não regula muito bem, o que também vem a ser uma expressão idiomática (ou será gíria?) em português.
Os estudiosos sofrem para definir o que é o quê, como veremos em artigos futuros. (Contato com o autor: John D. Godinho – [email protected])
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
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