Curiosidades e Dicas do Inglês Falado: “Estuary English” na boca do povo e da elite de Londres
O conceito de Estuary English é um sinal dos tempos; é um sintoma do que está acontecendo na sociedade inglesa, onde o nome do jogo, nos dias de hoje, é “flexibilidade e mobilidade social”. Ele não é uma forma de falar bem definida; pelo contrário, é abstrato, e muitas de suas características já existem no sudeste da Inglaterra há muito tempo, identificadas em outros sotaques londrinos. O que torna o Estuary English mais importante é o fato de que camadas da sociedade (classe média, profissionais liberais, e celebridades) que, no passado, só usariam a RP, ou sotaque parecido, estão optando por um linguajar que, embora gramaticalmente correto, tem a pronúncia e a informalidade usadas pela classe trabalhadora.
Alguns falantes de Estuary English não se afastam muito da Received Pronunciation (RP), outros permanecem perto do cockney, mas a maioria prefere misturá-los, ser flexível, combinar o seu sotaque com o de seu interlocutor. Por exemplo: um jovem, ao ser entrevistado para um emprego, provavelmente usará uma pronúncia mais para RP do que para cockney, porque os entrevistadores tendem a ser mais velhos e mais conservadores. Ao tomar um taxi, o mesmo jovem dirige-se ao taxista num Estuary English que se aproxima do cockney, de acordo com a moda urbana e a cultura da juventude.
Os falantes de Estuary English que exageram na dose podem tornar-se vítimas de galhofa – quando carregado demais, numa tentativa de angariar credibilidade popular, o Estuary English é tido como ridículo e chamado de mockney, ou seja, cockney falsificado, fingido (mock + cockney).
Os políticos, como convém, continuam flexíveis. A ex-primeira ministra Margaret Thatcher tinha aulas de elocução para se expressar em RP em vez de no seu forte sotaque de Lincolnshire; já o ex-primeiro ministro Tony Blair usa o Estuary English de vez em quando ao ser entrevistado no rádio e na televisão; as más línguas dizem que ele usa mockney. E até a realeza parece ter sido influenciada pelo novo jeito de falar.
Estudiosos afirmam que, embora ainda falando de maneira aristocrática, a princesa Diana pronunciava Tuesday como /chewsday/ e reduce tinha o som de /rejuice/. A própria rainha Elizabeth II parece ter sucumbido, um pouco, à nova moda. Uma análise das mensagens de Natal proferidas por ela nos últimos trinta anos indica que a sua pronúncia resvalou em direção às vogais da nova geração. Conclusão: hoje, nem a própria rainha fala o Queen’s English de alguns anos atrás.
Todas essas variedades de pronúncia do idioma deixam muitos estudantes apreensivos. Afinal, qual é o tipo de inglês que está sendo ensinado? As pesquisas do professor John Wells, do University College London, e de outros linguistas, indicam que, além de estar se tornando a linguagem de londrinos cultos, o Estuary English está se alastrando pelo sudeste inglês e colonizando o resto do país. Outros afirmam que ele já é o sotaque prevalente na Inglaterra e que merece ser visto como a pronúncia padrão, substituindo a Received Pronunciation. O estudante pergunta: será que estou aprendendo a pronúncia que mais atende ao meu objetivo? O linguista, também professor, Paul Coggle responde: se você quer aprender inglês britânico, procure um curso em que a RP é usada como modelo, já que é a pronúncia que prevalece no mundo quando se trata de inglês britânico. A partir daí, o estudante estará mais preparado para aprender qualquer sotaque/dialeto regional, quer seja estuary, ou scouse, de Liverpool, ou brummie, de Birmingham, entre tantos outros. Além disso, a RP é a pronúncia que os americanos entendem com maior facilidade. Se o objetivo é utilizar o idioma no mundo dos negócios, o inglês indicado é o americano. É bom lembrar que, ao contrário do que acontece no inglês britânico, a pronúncia do americano permanece razoavelmente constante.
Com tantas pronúncias diferentes, o inglês pode dar a impressão de que está à beira de um paroxismo, prestes a se desmantelar. Mas a verdade é outra. Essas diferenças apenas comprovam que os padrões que regem a língua inglesa continuam inteiros, onde quer que ela seja usada. O standard English, o padrão maior, escrito, com todos os seus defeitos, é um maestro que sabe conduzir os vários sons e naipes da orquestra e fazê-la produzir resultados admiráveis.
Nota do Autor: O inglês escrito será abordado nos próximos artigos.
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A origem da Received Pronunciation
“Glottal Stop” e Pronúncias Desregradas do H, GH e OUGH
Homógrafo heterófono, mudança verbal e influência francesa no inglês
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