Curiosidades e Dicas do Inglês Falado: Alteração de Pronúncia e “The Great Vowel Shift”
O dilema dos escribas normandos era mais complicado ainda com relação à letra Y, porque o som vogal representado por ela tinha várias pronúncias nas diferentes partes do país. Essa confusão ainda está entre nós. Por exemplo, o Y da palavra byrgen em inglês antigo, que virou birien, burien ou berien em inglês médio e acabou no inglês moderno como bury (enterrar). Agora veja o desfecho: você escreve bury como na região oeste, mas pronuncia /berry/, como na região de Kent, no leste. Só que berry significa outra coisa (bago). O mesmo acontece com a palavra busy, de onde obtemos business, que obedece à ortografia da região oeste mas é pronunciada com o som de /bêzi/, que vem a ser a pronúncia de Londres, na região de East Midlands.
Existem algumas explicações para tudo isso. A pronúncia da região de East Midlands se impunha porque era ali que se concentrava o já conhecido triângulo de Oxford, Cambridge e Londres. O núcleo era pequeno mas fortíssimo e o seu tipo de inglês, inevitavelmente, veio a servir de base para o chamado Standard English (inglês padrão). Note bem que esse inglês é meramente uma variedade entre muitas; só que tem mais prestígio por ser a linguagem da capital e dos acadêmicos. Provavelmente, se a capital fosse Liverpool, o linguajar dos Beatles, o scouse, seria o inglês padrão de hoje.
O processo de alteração da pronúncia é lento e misterioso. Muitas das alterações vieram a se manifestar durante a época de Geoffrey Chaucer, mas, provavelmente, já tinham aparecido muitos séculos antes. Por incrível que pareça, algumas ainda estão em pleno andamento, como, por exemplo, em palavras como shove (leia-se /chav/), move (/muv/), clove (/clô-uv/), e outras, em que a pronúncia da combinação das letras –ove poderia ser uniforme, mas não é.
O mesmo aconteceu com a terminação -ed dos verbos regulares. Em inglês antigo, e certamente ainda na época de Chaucer, essa terminação era claramente pronunciada – helped era pronunciada /hélpâd/ em vez de /help’d/ como é hoje. Este foi o resultado de uma metamorfose pela qual o E estava passando, até virar letra muda.
O valor do E final não era apenas uma questão de pronúncia – ele também tinha um significado gramatical. No inglês médio, que Chaucer tinha herdado, embora os adjetivos já não indicassem o gênero, eles ainda eram flexionados para indicar o plural. Para isso, acrescentava-se a letra E. Dessa forma, a expressão cold day em inglês médio era cold dai, no singular, e colde daies, no plural, e a palavra colde era pronunciada /colda/. A eliminação da pronúncia do E final resultou no inglês moderno em que o adjetivo nunca é flexionado: cold day/cold days.
The Great Vowel Shift
Antes do Great Vowel Shift, as vogais na língua inglesa, quer breves ou longas, tinham um som bem próximo ao das vogais dos idiomas do continente europeu, ou seja, eram pronunciadas de forma semelhante ao português de hoje: o A de pá, o E de pé, o I de fino, o O de pó e o U de tu.
Para melhor entender o Great Vowel Shift, faça uma experiência. Pronuncie, em português, as cinco vogais em sucessão rápida. Sinta como o som da letra A é formado na parte de trás da boca, com a língua relaxada, o maxilar caído e os lábios bem separados. À medida que você pronuncia A, E, I, O, U, a língua se movimenta, o maxilar vai subindo e os lábios se fechando. Note que o som se desloca de trás para a frente até chegar à letra u. Foi o que aconteceu com a palavra fame. O som original era pronunciado como o A da palavra father é hoje, ou seja, /fáme/, mas foi-se deslocando de trás da boca para a frente até se juntar ao E, que se juntou ao I e se tornou /feime/. Aos poucos, as vogais mais longas começaram a ser pronunciadas como se fossem ditongos, com o som de ei, ai, ô-u e iú. Por isso, no alfabeto inglês as vogais são realmente ditongos, com exceção da letra E.
Nota do Autor: Outros aspectos de “Os Sons do Inglês” serão abordados em artigos futuros.
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