Curiosidades e dicas do inglês escrito: mais propostas e reformas ortográficas
Nos dois lados do Atlântico, um número crescente de vozes se levantavam contra a anarquia ortográfica na língua inglesa. (Além de Mark Twain, havia Charles Darwin, Lord Tennyson, Arthur Conan Doyle, e muitos outros). Um número considerável de organizações pró-reforma começaram a aparecer nos lugares mais inesperados.
Uma das mais importantes era a American Philological Association, organizada em 1876, que propunha, como ponto de partida, a adoção imediata da reforma de onze palavras: liv, tho, thru, wisht, catalog, definit, gard, giv, hav, infinit, e ar, no lugar de live, though, through, wished, catalogue, definite, guard, give, have, infinite e are. Com tanta coisa que poderia ser sugerida, é difícil saber quais os critérios da Associação para selecionar apenas estas onze e por que tanta urgência. Logo depois entrou em cena a Spelling Reform Association (Associação para a Reforma Ortográfica) e os ingleses, para não dizer que ficavam atrás, formaram a sua própria entidade três anos depois, a British Simplified Spelling Society.
Já no século XX, as campanhas começaram a ganhar impulso devido às contribuições, fabulosas para a época, do magnata Andrew Carnegie: 250 mil dólares. Daí nasceu o Simplified Spelling Board que imediatamente publicou uma lista de 300 palavras escritas de duas formas e endossou o uso da mais simples. Aos poucos, as sugestões foram ganhando força e aceitação, tanto que algumas das mudanças sugeridas foram finalmente adotadas, pelo menos na América: catalogue, demagogue e programme viraram catalog, demagog e program. Até o Presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, se envolveu no projeto, ordenando que a Gráfica do Governo Federal adotasse o ortografia simplificada.
Durante algum tempo, a onda da renovação parecia ir de vento em popa. Mas aí o Simplified Spelling Board ficou de cabeça cheia com o próprio sucesso e começou a querer impor muitas outras alterações, consideradas exageradas por alguns e ridículas por outros. De repente, o Board queria que as palavras tough (duro, resistente), deaf (surdo/a), trouble (dificuldade/encrenca), you (tu, você, vocês), philosophy (filosofia) virassem tuf, def, troble, yu e filosofy. E, segundo H.L.Mencken em The American Language, quase conseguiram fazer com que tho substituisse though.
A lista elaborada pelo Board incluía dezenas de outras palavras de uso cotidiano e as grafias sugeridas causaram tanto espanto que deram origem a uma barreira de resistência. Aos poucos, a onda de simplificação foi perdendo a força, saiu de moda e foi definhando até que nunca mais se ouviu falar de tais organizações. É provável que a eclosão da Primeira Guerra Mundial, bem como a morte do grande patrocinador do Spelling Board, Andrew Carnegie, tenham contribuído, e muito, para o ocaso das campanhas pró-simplificação.
Mas a ideia de simplificar a ortografia não morreu. George Bernard Shaw foi um dos que continuou segurando a bandeira, como demonstrou no seu testamento. Ali, ele tratou o assunto como da maior importância e deixou boa parte de seus bens para patrocinar a reforma ortográfica. Por azar, Shaw não contou com a interferência do Estado que, através de impostos sobre a transmissão de bens, levou quase todo o valor do espólio. A última vontade de Shaw estava destinada a ir por água abaixo quando a sua peça Pygmalion foi transformada num dos maiores sucessos do teatro musical na Broadway, My Fair Lady. De repente, os cofres ficaram abarrotados com dinheiro vindo dos direitos autorais.
Em l957-58, a herança de Shaw foi usada para promover um concurso para a invenção de um alfabeto que tivesse no mínimo 40 caracteres mas sem dígrafos ou acentos. O vencedor, Kingsley Read, produziu um alfabeto totalmente diferente do romano, com símbolos cheios de curvas suaves e muito parecidos com a escrita dravídica do sul da Índia. Algumas tentativas comprovaram que o alfabeto de Shaw era bem mais compacto e econômico do que o sistema tradicional. Mas havia um enorme senão: se fosse adotado, ele transformaria em analfabetos, da noite para o dia, os milhões de usuários da língua inglesa. E tudo ficou por ali mesmo.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
Ortografia irregular e esquemas previsíveis
Propostas e reformas ortográficas na língua inglesa
Confusão gerada entre a pronúncia e a escrita inglesa
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