Black English Americano: Minstrel Shows, Vaudeville, Spirituals e Gospel Songs
Nos Estados Unidos, a presença do Black English tornou-se mais marcante ainda através de shows de música (minstrel shows), vaudeville (tipo de teatro de revista), no rádio, depois no cinema e, finalmente, na televisão. O resultado foi uma mistura das culturas branca e negra, especialmente no sul, conforme se vê no romance Porgy, de DuBose Hayward, que virou campeão de vendas e acabou se transformando na famosa ópera popular Porgy and Bess, com música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin e do próprio Hayward. Os autores mergulharam profundamente no Black English, na cultura de Charleston e no gullah, das Sea Islands na costa do estado da Carolina do Sul. A ópera está cheia de referências musicais e ritmos negros, especialmente baseados nos spirituals e canções populares. A letra, naturalmente, está repleta de Black English. Quem não conhece:
Summertime an’ the livin’ is easy,
Fish are jumpin’ an’ the cotton is high,
Oh, yo’ Daddy’s rich and yo’ Ma is good-lookin’
So hush li’l baby, don’t yo’ cry.
obra baseada na ópera Porgy and Bess
Tudo o que havia sido tirado dos negros quando trazidos da África eles recriaram e levaram consigo para todos os cantos da América quando finalmente libertados – um idioma e uma cultura próprios. Um dos pontos de partida para essa reconstrução das raízes foi o culto religioso – a vida do escravo era tolhida de toda a forma e feitio, exceto quanto à sua expressão de religiosidade cristã. Foi assim que surgiram os cânticos religiosos cantados em Black English, como o equivalente dos cânticos dos brancos. Só que muitas dessas canções, os spirituals, hinos de profunda religiosidade, e as gospel songs, também baseadas em textos bíblicos, mas bem mais espontâneas e alegres, iam além da mensagem religiosa – eram também mensagens em código expressando os anseios e esperanças de um povo oprimido. O Spiritual Judgment Day (O Juízo Final), por exemplo, era uma descrição do dia em que os escravos se revoltariam; Home, Canaan (A Terra Prometida) era um alusão velada à África. E quando um spiritual se referia a um escravo a-gwine to Glory (a-going to Glory, ou seja, indo para a Glória), todos sabiam que se tratava de alguém que conseguiu voltar à sua terra natal na África. Os brancos, claro, pensavam que se tratava de alguém que tinha morrido.
Esse tipo de subversão linguística extrapolou o meio religioso e tornou-se uma tradição que continua até hoje, quando, dependendo do contexto, palavras comuns assumem um significado totalmente contrário ou então viram vocábulos com forte conotação sexual. A palavra bad, que normalmente quer dizer mau, ruim, de repente é pronunciada /bééé-éd/ (pronúncia aproximada) e significa “maravilhoso, excelente, admirável”; mean para os neófitos quer dizer média, meio, ou também ruim, mas para os iniciados é “excelente”. O mesmo acontece com ugly (feio, horroroso, mau): sem que você perceba, ugly se transforma e vira beautiful (lindo). Já a inocente descrição daquele doce que mais parece um pequeno rocambole recheado com geleia de frutas, de repente deixa de ser inocente: jelly roll, dependendo do contexto, torna-se uma descrição da genitália feminina. E até a expressão rock ‘n’ roll, hoje tão divulgada, começou como apenas mais uma maneira de dizer “transar”. (Contato com o autor: John D. Godinho – [email protected])
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
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