Black English Americano: babás negras, Underground Railroad, Uncle Remus e Uncle Tom’s Cabin
Até a década de 1960, era difícil encontrar algum estudioso branco que admitisse a influência do Black English no idioma norte-americano. Hoje ele é fartamente estudado e sua influência reconhecida em todos os níveis. Em termos mais abrangentes, o nome Black English também inclui o inglês das ilhas do Caribe e outros territórios do antigo império britânico. Mas aqui vamos abordar apenas o Black English dos Estados Unidos, especialmente nos estados do sul onde prevalece o Southern dialect (dialeto do sul) e onde a escravidão e as plantações faziam parte vital da estrutura econômica e social. A influência da nova linguagem foi tão marcante que ainda hoje se nota a grande semelhança na pronúncia de brancos e negros no sul. Muitos sulistas, naturalmente, discordam dessa observação, mas, quer queiram, quer não, o sotaque sulista seria hoje bastante diferente sem a presença do Black English (J. L. Dillard, em Black English, Nova Iorque, 1973).
Essa influência começava no berço e continuava durante a primeira infância. Até os seis ou sete anos, as crianças negras e brancas cresciam, brincavam e aprendiam juntas. As babás eram sempre negras. Já nos estados do norte, onde não havia plantações e a população negra era bastante reduzida, a influência do Black English praticamente não existia. Mas era apenas uma questão de tempo. Hoje ela se faz presente no inglês americano em geral. Afinal, o que era apenas um punhado de escravos em 1619, já era um milhão em 1772 e quatro milhões em 1861 e 37 milhões em 2000.
A escravidão obrigava suas vítimas a criar tradições e linguagem próprias. Nada mais natural que elas acabassem transbordando do Black English para o grande fluxo do inglês americano comum. Muitos escravos fugiam para os estados livres do norte ou para as fronteiras, onde se juntavam aos pioneiros, se tornavam cowboys, e mais tarde se fixavam na terra como qualquer outro cidadão. A fuga representava um risco enorme: os donos ofereciam recompensas pela captura, o que deu origem a uma nova profissão, os caçadores de escravos. Mas nem sempre os escravos eram totalmente desprotegidos. Nas décadas que antecederam a Guerra Civil, havia um esforço organizado, ultrassecreto, chamado The Underground Railroad, uma rede de rotas clandestinas montada por abolicionistas no norte para ajudar os fugitivos a encontrar refúgio nos estados livres ou no Canadá. E assim, o Black English foi se espalhando pelo continente.
Naquela época, as histórias sobre a escravidão corriam soltas e a literatura popular se encarregava de disseminar o Black English. No livro A Cabana de Pai Tomás (Uncle Tom’s Cabin), Harriet Beecher Stowe faz questão de usá-lo amplamente. No entanto, muitos estudiosos dão às histórias de Uncle Remus, escritas por Joel Chandler Harris, o crédito de introduzir o Black English escrito no inglês comum. A primeira, Negro Folklore: The Story of Mr. Rabbit and Mr. Fox, as Told by Uncle Remus (Folclore dos Negros: A história do Sr. Coelho e do Sr. Raposa, contada por Tio Remus), foi publicada em 1879 no jornal The Atlanta Constitution. Nela, um negro já idoso, Tio Remus, conta a um menino branco uma série de histórias divertidas vividas pelos personagens Br’er Rabbit (Irmão Coelho) e Br’er Fox (Irmão Raposa) – tudo em Black English. A influência do dialeto no inglês comum falado obviamente já era marcante, pelo menos na Georgia, uma vez que o ouvinte era um menino branco e que a publicação foi num jornal de grande circulação. As histórias tornaram-se tão populares que Harris se sentiu compelido a escrever várias outras. (Contato com o autor: John D. Godinho – [email protected])
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
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