As Faces do Inglês: os Palavrões e o Latim
O uso de termos chulos é uma tradição que vem de longe. De acordo com o Dr. J. N. Adams da Universidade de Manchester, na Inglaterra, citado por Bill Bryson em Mother Tongue, 1990, p. 214, os romanos tinham pelo menos 800 palavras chulas. Já o inglês de hoje, dizem alguns, é bem mais limitado. Dependendo da definição que se der ao termo “chulo”, o número pode variar entre 20 e 60 palavras. É que algumas palavras são consideradas mais “chulas” do que outras, quer dizer, certas palavras podem ter aceitação social incerta, enquanto outras são absolutamente tabus. Mas, se levarmos em conta a enorme variedade no uso e nas combinações desses termos, vamos ver que o inglês não é tão limitado assim e que existem milhares de expressões vistas com maus olhos pelas camadas ditas cultas e de boas maneiras. Por via das dúvidas, essas expressões são, invariavelmente, classificadas como “inglês proibido”. Seu uso, especialmente por um estrangeiro não consciente das consequências, deve ser feito com o máximo cuidado, uma vez que pode magoar pessoas profundamente, provocar até atos agressivos, e, dependendo do meio, refletir da forma mais negativa possível sobre a pessoa que o usa.
A maior parte dos palavrões em inglês tem uma história bem antiga. Alguns já se distanciaram bastante de suas origens, mas outras permanecem intactas como, por exemplo, a palavra fart que já era bastante comum entre os anglo-saxões no século X. (A definição do equivalente em português dada no Dicionário Aurélio é um modelo de objetividade e discrição: “Ventosidade emitida pelo ânus; traque, pum, pu”). Outras sofreram alterações ao longo do tempo até virarem o que são hoje. O que para os anglo-saxões era scitan virou shite durante o século XI e shit (merda) no século XIV. Fuck também é bastante antiga e, provavelmente, tem as mesmas origens que seu equivalente em português: do latim futere. Alguns dizem que vem do alemão antigo ficken. A palavra na forma atual foi registrada pela primeira vez no século XIII, mas, sem dúvida, já existia há muito tempo. A sua história é um pouco vaga até porque, antes de 1503, havia outro verbo mais comum para descrever o ato sexual – to swive. Outros palavrões são de safra mais recente. Pussy (vagina) deve ter uns trezentos anos, enquanto cock, prick, dick e peter (pênis) começaram a aparecer no século XVI.
Traques Mortais
O mais interessante é que existe um claro paralelo entre o inglês e o português, tendo em vista um parente comum – o latim. Muitos nomes são absolutamente inofensivos se identificados com o nome em latim clássico, mas são considerados palavrões se associados a nomes vindos do latim vulgar ou de outras origens. Exemplos não faltam. Anus, em inglês, e ânus, em português, referem-se obviamente à mesma parte do corpo humano sem causar a menor ofensa a quem quer que seja. Já as palavras asshole, em inglês, e seu equivalente em português derivada do latim vulgar culu e à qual se acrescenta as palavras “olho do –“, são tidas como altamente obscenas. O mesmo acontece com penis e pênis, aceitáveis em ambientes requintados, tanto em inglês quanto em português, mas que em inglês chulo são palavras de origem não latina – cock, dick, ding-dong, dingy, jock, joint, meat, pecker, peter, prick, entre muitas outras. O pênis, em português, também tem um bom estoque de apelidos considerados chulos, nenhum deles derivado do latim clássico. A palavra vagina não merece o menor reparo, em nenhum dos dois idiomas, mas tente identificar essa parte da anatomia feminina com outros nomes e você vai ver o que acontece. Em inglês, a lista é enorme: cunt, box, crack, hunk of ass, hunk of tail, nookie, piece of ass, piece of tail, pussy, slit, snatch, e muitos outros. E a língua portuguesa não fica atrás. Também do latim clássico excrementu vêm o inglês excrement e o português excremento, palavras que podem ser usadas sem causar espanto. No entanto, o termo em inglês shit e seus derivativos, bem como seus equivalentes em português, podem causar algum transtorno.
A realização do ato sexual sempre mereceu a maior atenção. Em latim existem várias palavras para descrevê-lo: copulare, fornicare, coitu, entre outras. As palavras correspondentes em inglês e português são usadas com tranquilidade desde que não se afastem do latim: copulate (copular), fornicate (fornicar), coitus (coito). Mas as palavras baseadas no latim vulgar futere causam o maior rebuliço e talvez por isso elas, e seus derivados, sejam precisamente os palavrões mais usados, até com referência a coisas que nada têm a ver com sexo. No próximo artigo veremos a evolução de mais termos do “inglês proibido”. (Contato com o autor: John D. Godinho – [email protected])
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
As Faces do Inglês: Slangs (gírias)
As Faces do Inglês: Slang e Palavrões
As Faces do Inglês: as Expressões Idiomáticas
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