Os Imigrantes e o Inglês Americano: Gullah e as Origens do Black English (Ebonics)
Os imigrantes europeus vieram, aos milhões, tentar a sorte no Novo Mundo. Repare que todos o fizeram por opção, embora quase sempre “forçada” pelas condições da época – políticas, econômicas, religiosas e outras. A todos foi permitido trazer a sua cultura, seu idioma, seus costumes e tradições. Mas houve outro grupo de imigrantes cuja influência no inglês americano não se encaixava em nenhuma dessas vertentes da imigração europeia. Os seus componentes eram imigrantes que não sonhavam com novos mundos e muito menos planejavam o corte radical de suas raízes. Em contraste com os europeus, seu idioma e cultura eram deixados para trás na sua terra natal. A eles não era permitido trazer malas nem trouxas; traziam apenas lembranças, tristeza e saudade. Eram os negros da África.
Para os europeus, a América era o sonho da liberdade, para os africanos era o pesadelo da escravidão. Enquanto os europeus tinham inúmeros pontos em comum com os que já estavam fixados nas colônias britânicas, os africanos não tinham rigorosamente nada. Nem sequer a sua língua-mãe encontrava eco na língua de seus companheiros de viagem – nos porões, viajavam e sofriam juntos, mas não falavam juntos. Por um motivo: como medida de segurança, os escravos da mesma tribo eram distribuídos em diferentes lotes ou grupos, para minimizar o risco de uma rebelião a bordo. Os novos imigrantes perdiam tudo, inclusive o uso do próprio idioma e os navios negreiros viravam Torres de Babel flutuantes. Naquela situação limite, os escravos eram obrigados a elaborar uma nova linguagem que lhes permitisse um mínimo de comunicação entre si e com os seus mestres, para que pudessem reconstruir suas vidas.
As primeiras palavras de inglês que os escravos ouviam eram proferidas pelos marinheiros dos navios negreiros, um tipo de inglês de meia-tigela, já que as tripulações da época eram compostas de gente vinda dos mais variados países, mudando de embarcação com frequência. Normalmente, esses barcos começavam suas viagens nos portos ingleses de Liverpool e Bristol, iniciando o chamado “Triângulo do Atlântico”. Os navios saíam carregados de bugigangas e tecidos de algodão baratos que eram levados aos postos da África Ocidental onde eram trocados por cargas de escravos. Começava, então, a segunda perna do triângulo, a Middle Passage (a Passagem do Meio), que levaria os escravos aos portos do Caribe e estados do sul dos Estados Unidos, especialmente Charlestown, na Carolina do Sul, onde eram vendidos aos donos das plantações de cana, algodão e tabaco. A triangulação se completava quando os navios retornavam a Liverpool ou Bristol carregados de açúcar, rum, melado, algodão e tabaco, mercadorias muito apreciadas e que traziam um ótimo lucro para os donos. Antes da abolição da escravidão pelo parlamento inglês em 1807, o triângulo criou verdadeiras fortunas, mas também criou uma nova espécie de inglês.
Foi assim que nasceu o inglês pidgin usado pelos escravos, a língua franca baseada no inglês barato dos marinheiros misturado com um sem-número de idiomas africanos. Esse fenômeno deu origem ao gullah (corruptela de Ngola ou Angola), um inglês crioulo ainda hoje falado nas Sea Islands, no litoral do estado da Carolina do Sul. E foi a evolução natural dessa linguagem viva que resultou no que hoje se chama Black English, o inglês dos negros, falado em muitas comunidades nas grandes metrópoles americanas.
Esse tipo de inglês foi se espalhando pelo país e acabou ganhando nome próprio – Ebonics. (Contato com o autor: John D. Godinho – [email protected])
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
Imigrantes e Inglês Americano: Ethnic Slurs e Estátua da Liberdade
Imigrantes e Inglês Americano: Alemães, Italianos, Judeus e outros
Imigrantes e Inglês Americano: Ellis Island e Comunidades de Imigrantes
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