Os Imigrantes e o Inglês Americano: “Ethnic Slurs” e a Estátua da Liberdade
Alcançar o “sonho americano” nunca foi tarefa fácil. Os próprios americanos que o digam! Para os imigrantes, então, nem se fala. As barreiras são tantas, que um passaporte só não basta; para chegar lá, é preciso ter pelo menos dois. Um deles é aquele livreto emitido, de forma burocrática, pelos países de origem e que permite atravessar fronteiras concretas através de carimbos e respostas a perguntas igualmente burocráticas. O outro é abstrato e muito mais difícil de conseguir – é o domínio do novo idioma, a chave da nova cultura. É ele que vai permitir vencer as barreiras da comunicação e superar, talvez, as fronteiras invisíveis do preconceito e da discriminação. Para este passaporte não existe burocracia; ele depende da força de vontade e dos sonhos de cada um, acompanhados de uma boa dose de sorte.
Vestígios dessas barreiras continuam em pleno vigor na língua inglesa americana. Os recém-chegados, dependendo da nacionalidade, recebiam apelidos (ethnic slurs) que eram, e ainda são, pejorativos: os italianos eram guineas, ou wops, ou greaseballs, ou dagos (nome por vezes também dado a hispânicos), os chineses eram chinks, os alemães eram os krauts, porque supostamente são tarados por repolho (sauerkraut), os irlandeses eram micks ou paddies, enquanto os hispânicos, além de dagos, eram também chamados de spics, vindo da expressão No spic English. Os judeus eram yids (de yiddish) ou kikes (derivado da terminação de muitos sobrenomes judeus em –ki ou –ky).
Nem os próprios colonos ingleses escaparam. Mais recentemente, desde a década de 1960, seus descendentes também ficaram conhecidos como WASPS (White Anglo-Saxon Protestants – anglo-saxões brancos e protestantes), termo usado em tom bastante depreciativo, referindo-se ao grupo que, supostamente, compõe a classe dominante, o establishment.
As promessas da América sempre fascinaram os menos afortunados, em qualquer parte do mundo. (Geralmente, os ricos não imigram; eles viajam e fazem temporadas). Para os europeus, o Novo Mundo se apresentava como a solução para todos os problemas econômicos e sociais, provocando uma verdadeira invasão que começou em meados do século XIX e continuou até as primeiras décadas do século XX.
O ponto de chegada, por excelência, era o porto de Nova Iorque. Ano após ano, eles vinham: os alemães e os italianos abandonando a sua terra depois de revoluções fracassadas, os irlandeses e os scots-irish fugindo da fome; os judeus da Europa central tentando escapar das tradicionais perseguições – todos esperando encontrar melhores dias no paraíso da Miss Liberty, a Estátua da Liberdade, um poderoso símbolo para os imigrantes que passavam de barco diante do monumento a caminho de Ellis Island, para os procedimentos de imigração.
As promessas eram reforçadas no poema The New Colossus, de Emma Lazarus, poeta descendente de judeus sefarditas portugueses, inscrito na base da estátua. Num dos versos, ela dirige-se ao Velho Mundo e grita:
“Fiquem, terras antigas, com a vossa pompa histórica.”
E logo declara:
“Dai-me os vossos cansados, os vossos pobres,
As massas oprimidas ávidas por respirar em liberdade,
O infeliz refugo no vosso litoral abarrotado.
Mandai-me os sem-abrigo, os açoitados pela tempestade.
Eu ergo a minha luz junto ao portal dourado.”
(Tradução do autor)
Como disse O. Henry, o escritor americano, descrevendo o monumento: “A Estátua da Liberdade foi feita por um italiano, por encomenda dos franceses, com a finalidade de dar as boas-vindas aos imigrantes irlandeses na sua chegada à cidade holandesa de Nova Iorque.”
Nos próximos artigos, veremos a contribuição dos imigrantes para o enriquecimento do inglês americano e sua cultura. Entre em contato com o autor: John D. Godinho – [email protected]
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
O certo e o errado no inglês: as divergências
Inglês na América: chegada do idioma ao Novo Mundo
Inglês Americanizado: Cowboys, Ferrovias e a Língua Inglesa
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