Curiosidades e dicas do inglês escrito: o início da ortografia padronizada
O desvario no inglês escrito vem de longe. Um exemplo clássico é a troca de correspondência entre a rainha Elizabeth I e James, o então rei da Escócia e futuro rei da Inglaterra. A rainha usava as palavras desiar (hoje desire, desejo) e wold (would) e James respondia usando desyre, desire, wolde e woulde, deixando bem claro que a anarquia ortográfica estava presente em todas as classes sociais.
Mas era uma situação destinada a mudar – e não necessariamente para melhor. Antes de 1450, era possível determinar onde uma carta tinha sido escrita, uma vez que a grafia refletia a pronúncia de quem a escreveu. Um século depois, isso estava se tornando cada vez mais difícil, devido à invenção da impressora mecânica. É que a máquina trouxe consigo uma forte padronização na ortografia do idioma, tirando do escritor a opção de soletrar a seu bel-prazer, qualquer que fosse a sua pronúncia. A imprensa também proporcionou a generalização de educação no vernáculo, de modo que já nos fins do século XVIII, a ortografia tinha ficado congelada. Isso explica, mas não suaviza, a insegurança dos herdeiros do sistema que hoje se veem obrigados a soletrar um grande número de palavras como se ainda vivessem nos tempos de Elizabeth I.
O responsável pela introdução da tipografia mecânica na Inglaterra foi William Caxton. Embora fosse um rico comerciante, seus interesses iam além de meramente acumular dinheiro, característica que o levou a se envolver com a invenção de Johann Gutenberg. No final do século XV, Caxton estabeleceu-se na cidade de Bruges, em Flandres, onde ouviu falar da impressora mecânica pela primeira vez. Como não era um simples sonhador, Caxton imediatamente vislumbrou as possibilidades de juntar o útil ao agradável – ganhar dinheiro enquanto se deleitava com a companhia de escritores e intelectuais da época. Homem de ação, Caxton logo tratou de montar uma editora naquela cidade e, em 1475, publicava The Recuyell of the Historyes of Troy, o primeiro livro impresso na língua inglesa. Mais tarde montou outra editora em Westminster.
De certa forma, alguns linguistas lamentam que a invenção tenha chegado tão cedo, já que o idioma estava em processo de profundas alterações, como as mudanças provocadas pelo deslocamento das vogais (The Great Vowel Shift); se a imprensa tivesse chegado mais tarde as incoerências que acabaram congeladas provavelmente teriam sido mais suaves.
A invenção de Gutenberg veio atender a necessidades que tinham dinâmica própria. No livro A History of the English Language, os autores Baugh e Cable dão uma indicação do que estava acontecendo. A procura de material impresso e a velocidade com que as gráficas despejavam títulos no mercado, haviam tornado urgente uma padronização da ortografia. (Só no ano 1640 foram publicados mais de 20 mil títulos). Já vimos o resultado: o inglês de hoje ainda é escrito para refletir a pronúncia das pessoas que viveram há 400 anos ou mais, dando a impressão que o objetivo é atazanar a cabeça de quem usa o idioma, nativos ou não.
Nota do Autor: Outros aspectos do inglês escrito serão abordados em artigos futuros.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho. Adquira essa obra nos seguintes endereços: |
Influência normanda na ortografia inglesa
Ortografia irregular e esquemas previsíveis
Confusão gerada entre a pronúncia e a escrita inglesa
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