Curiosidades e Dicas do Inglês Falado: Received Pronunciation – Parte 2
Quando surgiu a Received Pronunciation (RP), a ascendência de um tipo de inglês diferenciado não era, realmente, nenhuma novidade. Já nos tempos de Elizabeth I, 300 anos antes, havia uma pronúncia diferente praticada no triângulo de Oxford-Cambridge-Londres. Só que, desta vez, esse inglês diferente era tido como “o melhor” e era disseminado nas escolas das elites como o preferido em todo o país. Por trás da Received Pronunciation havia outra missão a ser desempenhada na sociedade vitoriana – a de dar aos representantes do exército britânico e ao serviço público imperial um tom específico que os distinguisse. Tanto assim que, no auge do império, a RP era amplamente reconhecida como a voz da autoridade, da cultura e do sucesso material, ótimas razões para ser imitada, com o maior afinco, pela classe média, alpinistas sociais e outros candidatos a emergentes.
Por outro lado, como já vimos, a RP era olhada com desdém e antipatia por muitos, especialmente no âmbito rural e na classe trabalhadora, que rejeitavam o esnobismo que ela representava e a apelidaram de la-di-dah (falar fresco, afetado), posh, plummy, hyperlect, etc., e também de fraffly, alcunha baseada na forma engraçada, mas aristocrática, de pronunciar a palavra frightfully (terrivelmente, assustadoramente). As más línguas não dão trégua: dizem que a principal característica desta pronúncia é a de poder ser articulada sem que se movam os lábios, como se estivessem anestesiados, e algumas apontam o Príncipe Charles como um craque neste tipo de coisa.
A RP é apenas uma das muitas variedades de pronúncia do idioma, numa lista extensa e, porque não dizer, assombrosa, para um país relativamente pequeno. De acordo com Robert Claiborne em Our Marvelous Native Tongue, na Inglaterra existem pelos menos 13 dialetos distintos, enquanto o linguista Mario Pei calcula que o número de sotaques regionais/dialetos é de, pasmem, nada menos do que 30. Em primeiro lugar está a Received Pronunciation, claro; na outra ponta vem o cockney, um linguajar de pronúncia peculiar que vem sendo comentado há séculos, muito antes da RP, geralmente de forma pejorativa.
Cockney é também o nome dado aos membros da classe trabalhadora nascidos na região de Londres, especialmente do East End (zona Leste), onde são ouvidos os sinos da igreja de St. Mary-le-Bow. É um linguajar geralmente estigmatizado como um “dialeto de quinta categoria,” não recomendável aos que querem subir na vida. No entanto é um elemento que, nos últimos anos, se tornou um ingrediente importantíssimo no inglês londrino e no sudeste da Inglaterra, o chamado Estuary English, que abordaremos mais adiante.
O ritmo e a música peculiares ao cockney foram exemplarmente descritos por George Bernard Shaw em Pygmalion, personificados na figura de Eliza Doolittle, uma humilde vendedora de flores que viajou da sarjeta do cockney para o mundo encantado da Received Pronunciation. A história da mocinha. acabou na Broadway, mais tarde foi para Hollywood, e depois rodou mundo com o nome de My Fair Lady.
(Nota do Autor): Outros aspectos de “Os Sons do Inglês” serão abordados em artigos futuros.
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Received Pronunciation – Parte 1
“Glottal Stop” e Pronúncias Desregradas do H, GH e OUGH
Homógrafo heterófono, mudança verbal e influência francesa no inglês
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